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sábado, 26 de novembro de 2016

Nuvens

Tudo começou com um exercícios de colagem que não deu certo...
Minhas únicas experiências anteriores com colagem não tinham NADA a ver com o que eu faria naquela aula. Eu deveria escolher qualquer imagem de revista que me chamasse a atenção, recortar ou rasgar a imagem ou a parte que eu quisesse dela, colar numa folha de desenho e desenvolver um trabalho, talvez um desenho a partir da imagem colada. 
Folhando as revistas, meu olhar se fixou no olho enorme de um cachorro. Um olho enorme em preto e branco, extremamente expressivo, me nocauteou. Não consegui fazer mais nada naquele dia...
Pensei muito sobre aquele olho e sobre muitos outros olhos e olhares, e decidi que eu precisava fazer um trabalho com olhos (acabei fazendo vários). O primeiro seria um abismo preenchido de olhos de vários tamanhos, recortados e desenhados. O céu seria nublado. Nublado em aquarela. E como é que eu faço isso? Eu tinha um estojinho de aquarela, mas tudo que eu sabia de aquarela foi o que eu vi (e não que fiz) no Pinterest. Eu nunca tinha "aprendido" a pintar com aquarela. 

Aquarela Lamy, Alemanha
Primeiro, aprendi o básico do básico: A tirar a tinta da pastilha com um pincel, passar para uma paleta, diluir a tinta, fazer outras cores e, então, a controlar o pincel e o curso da tinta em quadradinhos. 



Depois, as tentativas de nuvens. Fiquei muito frustrada! As primeiras nuvens até tinham formato de nuvens, mas eram azuis ou cinzas, e não brancas... 

Primeiras nuvens
Depois experimentei delimitar um quadrado para fazer um pedaço de céu nublado, mas foi um desastre, nada saia como eu imaginava. Então peguei referências de céus nublados e de nuvens na internet, talvez eu precisasse olhar para um céu e tentar pintá-lo. De novo, decepção. Aliás, a única nuvem que parecia realmente existir foi a que pairava sobre a minha cabeça! Não vou mostrar todos as minhas tentativas aqui, seria muito repetitivo! Mas por uma semana a maioria foi mais ou menos o que está aqui mesmo...

Tentativas (frustradas) de céus nublados
Assisti a uns tutoriais de como pintar céus e nuvens em aquarela, e lá fui eu de novo... Agora, molhando o papel antes de pintar, comecei a ter uns efeitos mais interessantes... Mais parecidas com as nuvens que eu queria...

Céus nublados e chuvosos
Nuvem num céu azul
No próximo post eu te mostro como eu aproveitei as nuvens que não deram certo, e em algum outro eu mostro o resultado final do trabalho do abismo com colagem e desenhos de olhos, que desencadeou esta sequência de nuvens!



Manchas vivas

Há uns meses atrás fiz minha primeria oficina de ilustração com um ilustrador ilustre! Foi no Atelier Dani Galanti que passamos um dia inteiro sendo desafiados por Dipacho, um ilustrador e autor colombiano de livros infantis premiadíssimo.
O objetivo era desenhar casas, árvores, ratos, vacas, gatos, pessoas e outros personagens a partir de formas geométricas, formas orgânicas e manchas em nanquim ou aquarela. Apesar de serem exercícios muito livres, não eram exercícios fáceis. Afinal, não é fácil exercitar a liberdade, ao menos não para mim. Não num grupo com profissionais e amadores super talentosos ao meu lado. Ou seja... mais que aprender a enxergar e a fazer desenhos a partir de muito pouco (formas e manchas), tive as primieras lições sobre a necessidade de se deixar a vaidade e a autocrítica de lado porque, se não for assim, não dá pra dar nem um passo. Lição dura!

Os exercícios eram assim:
1. O Dipacho pedia para desenharmos formas geométricas ou para fazermos manchas de nanquim ou aquarela, por exemplo.
2. Ele nos mostrava, por exemplo, um rato. O que não pode faltar num rato? O que o caracteriza como rato? Orelhas, focinho, dentes, rabo, olhos, quatro patinhas magras...
3. Então tínhamos que transformar aquelas formas ou manchas em ratos em alguns minutos.
4. Passado aquele tempo, nos levantávamos e íamos observar o trabalho dos colegas, analisando o que gostamos e porque, qual foi inusitado, qual nos chamou mais atenção, etc. Vários colegas fizeram trabalhos geniais, em minutos, uau!

Os meus não foram geniais, mas de alguns eu gostei. No começo eu quebrei a cabeça tentando fazer os ratos parecerem ratos, mas aí vi que os desenhos mais legais eram representações em que os olhos, o rabo ou o focinho estavam deslocados de onde deveriam estar, por exemplo. Tudo bem que apareceu um gato aí no meio! :o)

Ratos a partir de agrupamentos de formas geométricas.Tinta acrílica preta, canetas branca e preta e lápis branco. 


Ratos a partir de manchas. Nanquim, canetas branca e preta e lápis branco.
Também teve a "surpresa" de transformarmos formas orgânicas em personagens humanos...


Personagens a partir de formas orgânicas. Nanquim, caneta preta e grafite.
... e manchas amarelas bem diversas e transformar em animais.

Animais a partir de manchas diversas. Tinta acrílica amarela e preta e caneta preta.
Te convido a observar ilustrações super bacanas que estão por aí, e você encontrará muitos trabalhos a partir de figuras geométricas, orgânicas e de manchas. Confira alguns:

Oh, as cores, de Jorge Luján, ilustrações de Piet Grobler, Editora SM, 2011


Ilustração de Dipacho para "EL Niño Gato", texto de  Triunfo Arciniegas, Ediciones SM, Colombia, 2013

 ilustrações de Dipacho para "A Vaigem dos Elefantes", texto dele. Pulo do Gato, 2012

 ilustrações de Dipacho para "A Vaigem dos Elefantes", texto dele. Pulo do Gato, 2012




quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Meu primeiro desafio (um pouco de nostalgia, um pouco de loucura)


Eu sou daquelas pessoas que tem mania de esvaziar armário, mesa e bolsos. Adoro um cesto de lixo! Jogo tudo, o que pode e o que não pode. Cansei de resgatar papeis importantes no lixo! Mas muitas coisas não puderam ser resgatadas e foram embora para sempre.

O que pode ser aproveitado por outra pessoa é doado, claro. Sempre fui assim, desde muito pequena. Por isso não tenho uma boneca antiga (nem a primeira, a favorita), não tenho meus primeiros livros, meus disquinhos, minha vitrolinha ou minha maquininha de costura... Para falar a verdade, eu gostaria de ter guardado todos eles... Não para deixar guardado. Para continuar em contato com todos eles, para continuar usando, lendo, ouvindo, compartilhá-los com meus filhos... Mas já foi, e quem os recebeu deve ter aproveitado bastante. Mas, de verdade, nunca me passou pela cabeça me desfazer da minha caixa de lápis de cor da Faber Castell. Uma caixa com 36 cores!

minha eterna caixa de Faber Castell...

Devo ter ganho essa caixa quando eu tinha uns oito anos, era meu tesouro! Usei esses lápis com muito cuidado e carinho durante toda a minha vida escolar. E então o guardei no fundo do armário, deixando à frente apenas os textos "sérios".

Então o desejo de desenhar voltou com força total. Encontrei o Atelier Daniela Galanti, e nesse espaço maravilhoso, companheiras incríveis para essa jornada: de fora para dentro, de dentro para fora, ad eternum...

Mas aí descobri que meus lápis antigos, lindos e tão amados, são muito duros. E saí comprando material novo! Oba!!! Aprendi a delícia que é o Carand'ache Supracolor Soft! Ele é aquarelável, o que é super legal. Mas é um lápis só para aquarelar. Ele "pode" ser aquarelado. 

Carand'ache Supracolor Soft, a vedete dos lápis de cor macios
 A lata pode ser muito bonita, mas para levar de casa para o atelier, do atelier para casa, não se mostrou muito prática. Isso porque quando a lata fica de pé, dentro da sacola ou da mochila, os lápis se movimentam um pouco... O suficiente para me deixar louca com a disposição das cores, e com medo de que eles se quebrem por dentro. Então arranjei um estojo bem leve, tipo "wrap". Agora sim, eles vão pra lá e pra cá comigo o tempo todo!

estojo de tecido de enrolar

estojo de tecido, enroladinho


Aprender a usar esses lápis não foi tão fácil quanto pode parecer... Meu primeiro exercício foi preencher esses quadradinhos, com valores diferentes, mais claros e mais escuros, em papéis de texturas diferentes. Aí eu usei o Canson Layout, um papel bem liso, quase sem porosidade. 

Se você entende de lápis de cor, já percebeu meu erro de principiante... "Calquei" o lápis para fazer a cor intensa, e o resultado foi uma cor meio saturada, um aspecto brilhante no papel... 

papel Layout Canson

o brilho do lápis no papel
Nã-nã-ni-nã-não! "Pode fazer tudo de novo, desta vez acrescentando cor em camadas, sempre suaves. Repetindo o movimento do lápis, com bolinhas ou com vai e vem, mas sempre com a mão leve", diz minha guia. Cada vez que o lápis toca o papel ele deixa seu pigmento... Não adianta ter pressa... "Fábrica de loucos", penso logo de cara. Mas vamos fazer o que tem que ser feito, certo?  

Logo de início fiquei super frustrada porque os colorido suave ficava com as marcas dos traços, já que a mão não estava tão leve quanto deveria. "Porcaria de lápis macio, com meu lápis antigo isso não acontecia!" Mas não sou de desistir fácil. Aliás, quando ponho uma coisa na cabeça, vou até o fim (ou até desistir mesmo...). Resumindo: passei horas, umas seis horas, para colorir esses quadradinhos. Nessas horas, passei da frustração para a raiva, da raiva para a tristeza, da tristeza para a aceitação, e da aceitação... para um estado meditativo maravilhoso! 

devagar e sempre

papel Mi-Teinte Canson

papel Desenho 200 Canson
E, pra completar, o treino da mistura de cores. Para minha grande surpresa, descobri que, não importa o tamanho da sua caixa de lápis, sempre haverá uma cor que você quer e que não está lá! Falo porque, desde meus primeiros exercícios, e a despeito da minha pouca experiência, já quis inúmeras cores que não encontrei entre os meus lápis!

papel Aquarela Canson







Conversão 

Keila Knobel

Sempre fui amante da palavra, do verbo. De seu som e de sua representação gráfica, com imagens ou letras. Talvez por isso tenha me tornado Fonoaudióloga. Mas eu não "precisava" ser fonoaudióloga, claro, foi uma escolha que eu tive o privilégio de poder fazer aos meus... 17 anos! Escolha refeita muitas e muitas vezes ao longo da minha carreira profissional e acadêmica. E é também um privilégio ver-me agora, muito tempo depois daquela escolha inicial, podendo fazer novas escolhas.

Foi quando a palavra "conversão" estalou na minha cabeça. Longe de pensar em qualquer questão religiosa, a palavra me lembra primeiro do sinal de trânsito. Converter vem da raiz latina "vertere": virar, torcer. Dar meia volta.

E voltar para onde?

Voltar para minha infância, resgatando o traço e a cor dos meus desenhos, a sonoridade e o afeto dos livros lidos e tantas vezes escutados na minha vitrolinha, o impulso da escrita. Um retorno à minha essência...

Para uma pessoa apegada à segurança e ao chão firme como eu, pode ter certeza de que essa virada dá frio na barriga! Junto com suspiros fundos, lágrimas e muitos sorrisos!... Mas vou seguindo meus instintos, feliz com as possibilidades infinitas que agora eu percebo, encantada...